Te escrevo pra lembrar do carinho: não é desejo esparso nem
vontade louca, é brotinho de algo que se foi: surgiu no seu próprio espaçotempo,
do meu eu de ontem pra sua pessoa que já não é. Mas não se finda assim...
perdura pelo tempo todo da existência e se faz sentir presente porque de fato o
é. Não permite remorso nem náusea nenhuma, não deixa lacunas e nem problemas. É
grande, mas não cabe, entende? Não cabe no hoje, no agora, mas cabe em todos os
momentos, porque ainda tem o gosto daquele doce que a gente nunca mais consegue
fazer. Não cabe porque é passado passado a limpo, e não mais viola. É pra
sempre e nunca mais, viaja no tempo, mas sem nunca sair do seu lugar cativo. É carinho,
mas não carece; é ternura, mas não esquenta: é pra sempre já acontecido. Não volta
porque não precisa: não é mais misto de urgência interna com desabrochar
petulante: é sentir não mais sentido.
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