quarta-feira, 28 de outubro de 2015


Alguns ventos fraquejando em frente ao mar: ter os cabelos bem presos na cabeça era alguma força maior que se escancarava – minha franja insiste em se soltar dos grampos pra golpear a testa. Virei a esquina saltitante quando mais nenhum rumor era capaz de enfraquecer: soltei os fios presos na garganta e a melodia de gestos eclodia como balão. --- que fazer com os corpos que alimentou friamente durante o inverno? São dezenas de bocas e braços e pernas inchados no espaço ocioso --- te desejo alguns litros de água salgada pra desopilar os olhos: você enxerga sem se arquejar frente ao redemoinho? Vou soltando as cordas como quem acorda. E olha. Tua destreza impressiona, mas não foi por isso que retornei os braços. Vasta exatidão de se saber cumprir: são tantas as pipas rodopiando pelo céu que nem mesmo consigo abrir os olhos. Me deparei com alguns tijolos soltando fumaça – a fria casca dura quando derrete vira açúcar. Teus pesares são duas canetas com bico de pena tentando furar a carne. Voltou ao ocorrido como se quisesse chamar – mas grita baixinho pra saber entontecer. Economia de gestos dançando: teu lugar arborizado na esquina virou parquinho de criança. Alguns meses mais tarde e decifro pra não devorar: são montantes esses cálculos difíceis que ficam cravados na cabeça. Era alguma febre chacoalhando o interno (o interno sempre foi mais denso e pesado) era febre de gestos  - e então se refez pra compor: quando foi que a tua garganta virou ralo de pia? Te segrego num ímpeto de conquistar. Viro avesso pra fazer caber. Mas não cabe. O corpo, outrora miúdo, se expandiu pra além das orelhas. O canto murchou com as rosas que deixei de regar. Não cabe. Não cabe. Não cabe. E esse apelo exímio bate forte como enxurrada. Faz uma força, libera as gavetas, abaixa essa música sofrida: o caber é tão inexato quanto o existir. Pra se caber é preciso que se queira caber. E então – vira a esquina correndo pra avistar. E então – entontece teus olhos como quem chama. E então- deixa amansar os fios eriçados da nuca. Teu charme sempre foi fraqueza pros meus joelhos. Eu acalmo e rodopio pelo lentoespaçodentro --- vou fazer canja pra acarinhar o estômago e mel pra ver se a língua não regurgita. Os espaços sempre vão deixar esse vão. Até que a água jorre: meus tornozelos são ásperos como casca de ferida. Mas se abrem em flor quando ligo o chuveiro. Alguns borrões mais tarde e eis que a pia da cozinha se põe a borbulhar. Pega o pão e faz lar. Tuas orelhas cheias de rezas agora são caixas de som. Afasta os fios enlatados e começa a andar: nada mais faz qualquer sentido quando os olhos não rimam. Alavanca esses desejos calculados e se deixa caber... não pensar nas rodovias é alguma espécie de salvação. Abre os peitos como quem quer que os peitos se abram: a magia da intuição é o momento: se deixa chegar e acalenta... 

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