Alguns ventos fraquejando em frente ao mar: ter os cabelos
bem presos na cabeça era alguma força maior que se escancarava – minha franja
insiste em se soltar dos grampos pra golpear a testa. Virei a esquina
saltitante quando mais nenhum rumor era capaz de enfraquecer: soltei os fios
presos na garganta e a melodia de gestos eclodia como balão. --- que fazer com
os corpos que alimentou friamente durante o inverno? São dezenas de bocas e
braços e pernas inchados no espaço ocioso --- te desejo alguns litros de água
salgada pra desopilar os olhos: você enxerga sem se arquejar frente ao
redemoinho? Vou soltando as cordas como quem acorda. E olha. Tua destreza
impressiona, mas não foi por isso que retornei os braços. Vasta exatidão de se
saber cumprir: são tantas as pipas rodopiando pelo céu que nem mesmo consigo
abrir os olhos. Me deparei com alguns tijolos soltando fumaça – a fria casca
dura quando derrete vira açúcar. Teus pesares são duas canetas com bico de pena
tentando furar a carne. Voltou ao ocorrido como se quisesse chamar – mas grita
baixinho pra saber entontecer. Economia de gestos dançando: teu lugar
arborizado na esquina virou parquinho de criança. Alguns meses mais tarde e
decifro pra não devorar: são montantes esses cálculos difíceis que ficam cravados
na cabeça. Era alguma febre chacoalhando o interno (o interno sempre foi mais
denso e pesado) era febre de gestos - e
então se refez pra compor: quando foi que a tua garganta virou ralo de pia? Te
segrego num ímpeto de conquistar. Viro avesso pra fazer caber. Mas não cabe. O
corpo, outrora miúdo, se expandiu pra além das orelhas. O canto murchou com as
rosas que deixei de regar. Não cabe. Não cabe. Não cabe. E esse apelo exímio
bate forte como enxurrada. Faz uma força, libera as gavetas, abaixa essa música
sofrida: o caber é tão inexato quanto o existir. Pra se caber é preciso que se
queira caber. E então – vira a esquina correndo pra avistar. E então –
entontece teus olhos como quem chama. E então- deixa amansar os fios eriçados
da nuca. Teu charme sempre foi fraqueza pros meus joelhos. Eu acalmo e rodopio
pelo lentoespaçodentro --- vou fazer canja pra acarinhar o estômago e mel pra
ver se a língua não regurgita. Os espaços sempre vão deixar esse vão. Até que a
água jorre: meus tornozelos são ásperos como casca de ferida. Mas se abrem em
flor quando ligo o chuveiro. Alguns borrões mais tarde e eis que a pia da
cozinha se põe a borbulhar. Pega o pão e faz lar. Tuas orelhas cheias de rezas
agora são caixas de som. Afasta os fios enlatados e começa a andar: nada mais
faz qualquer sentido quando os olhos não rimam. Alavanca esses desejos
calculados e se deixa caber... não pensar nas rodovias é alguma espécie de
salvação. Abre os peitos como quem quer que os peitos se abram: a magia da
intuição é o momento: se deixa chegar e acalenta...
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